Em 1975 eu tinha dezesseis anos e começava a dar meus primeiro passos em direção ao movimento estudantil. Estudante do Parobé, escola técnica federal que estava em processo de desmontagem pelo governo, eu era obrigado a fazer disciplinas do currículo do 2º grau no Colégio Júlio de Castilhos, o popular Julinho. Era uma espécie de “mistão”: currículo da área técnica (eletrotécnica) no Parobé e currículo geral no Julinho.
Naqueles
tempos difíceis uns guris malucos que frequentavam o Bom Fim fundaram um fanzine
e botaram o nome de N-A-O-TIL (ou NÃO). Fanzine é uma espécie de jornal caseiro,
artesanal, febre nos anos 70 e 80. É uma publicação independente e reproduz
temas de tribos específicas. Seu conteúdo pode ser qualquer assunto: música,
arte, cinema, quadrinhos, ficção e engajamento social. Fanzine vem do inglês
fanatic magazine, ou revista de fãs.
Bem, os guris
que fundaram o N-A-O-TIL cresceram e tornaram-se vanguarda em tudo o que
fizeram na vida. Não se poderia esperar outra coisa de gente como Giba Assis
Brasil, Ricardo Cordeiro, Carlos Gerbase e Heron Hugo Heinz. E o fanzine feito
à caneta hidrocor e colagens de recortes, que nunca obedeceu padrões técnicos,
influenciou e ajudou muita gente a pensar. Com a chegada no mundo internet o N-A-O-TIL
transformou-se num fanzine virtual e adaptou-se à nova linguagem.
Estes caras
não tem ideia de quanto contribuíram para que gente como eu fosse buscar o
caminho para encher a cabeça de ideias criativas, que mudaram o rumo da própria
vida, e se recusaram a viver no padrão estético empacotado. Minha Vó Maria
dizia que isto se chama boas companhias, boas influências.
Bem, o N-A-O-TIL está completando 50 anos, neste ano. Dia destes eu ouvi no rádio do carro, o pensamento de um filósofo que dizia “se um for um jovem idiota, serei um adulto idiota”. Eu acrescentaria que “quem tem boas companhias e boas influências na juventude, não será um velho idiota”.
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